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quinta-feira, 24 de outubro de 2013


Aguarde, vem vindo ai minha próxima publicação literária: Baú de Qualquer Coisa.

CABEÇA


 

 

 

 

Estava,

Estive

Com o umbigo perfurado

Por um dardo

Vazando ali

Das entranhas

Impurezas e do acaso,

Outro se não um vasto

Alo de cores frias

Escorregadias

Que perturbavam

A noite e o dia, entrelaçados.

Das horas que então...

Me ocorria o fato

De eu ter que despertar

Do pesadelo

Instaurado dentro dela.

E por não vê-lo

Além muro, além fronteira

Razão centro

Da perfuração por dentro

As cores, o torpor

Veio então o esgotamento

E por fim o desfalecimento

Dela,

Cabeça que atormentada dorme no nada.

 

 

 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

LONGE DE MIM


Engoliu seco ao ligar o computador, pois a manchete era assustadora: Terremoto mata oito mil e quinhentos na China. Não se assustaria se justamente para lá não estivesse viajado sua namorada Alessandra, repórter de uma grande emissora de radio e televisão no Brasil. Claro, havia viajado para cobrir os jogos de Pequim, mas justamente partiu em viagem antes, para conhecer mais da cultura daquele país. Tomou todas as precauções relativas as limitações que o governo Chinês impõe aos turistas seja de que origem for.Ele acompanhava, semanas antes os protestos do povo tibetano e foi o que mais alertou a namorada, para que ela se cuidasse.

Ligou o rádio, a tv e os noticiários a cada hora aumentava o numero de mortos. Claro, o celular, sempre dava fora de área, seria possível falar com a China, pelo celular? Mas com certeza pela Web, seu último recurso, afinal ela havia levado o LepTop e antes de pensar muito, enviou uma mensagem esperando resposta. Tentou Orkut, MSN. Nada. A família dele; duas tias de Sorocaba e a mãe, havia perecido naquele desastre aéreo em que ninguém assumia a responsabilidade e também Alessandra, tinha perdido o único irmão que num acidente de moto, de maneira que um era para o outro o que o outro era para um, amizade, companhia, parceria, quase irmandade junta com a tesão, muita tesão que um sentia pelo outro. Chamavam isso por aí de amor, mas ele sempre considerou esse papo de coração, amor uma grande baboseira. O que sinto por ela, dizia aos amigos na roda de happy hour ao final do expediente, é tesão. Não tem poesia nisso, quando a gente se toca a coisa acontece e pronto. Mas agora que ela havia viajado para tão longe, batia uma coisa justo no peito, perto do...não é possível, justo no coração. Ficou chateado consigo mesmo, sempre lhe falaram de saudades, mas sempre pensou: chega de saudade, concordo com a poesia dos anos sessenta, quando a musa passa o que mais me interessa é o seu rebolado. E era assim com Alessandra, seu cheiro, sua boca carnuda, seu olhar atrevido e as curvas convidando para serem tocadas como um violão que não verte notas, geme desesperadamente como uma gata maluca na noite sobre o telhado a procura do ninho. Os amigos o chamavam de maluco, de tarado, mas ele não dava ouvido, continuava assim sem limites, quando a encontrava após a happy hour da sexta feira. Um velho safado; pensavam aquelas senhoras do terceiro andar. Mas agora, essa notícia o desviava do devaneio libidinoso, o anuncio dessa tragédia do terremoto quase quebravam as suas pernas. Tv ligada, computador, celular. Enquanto remexia na escrivaninha as papeladas do aeroporto, contrato de viagem, book de agência de viagem, mapas, bilhetes, rascunhos. Shichuan não é possível?! Terá sido para esse inferno que Alessandra se fora? Batia na mesa onde voavam catálogos, fotos de Chengdu, Dujiangyan. Vozes eletrônicas e letras juntas falam de oitocentos estudantes soterrados, vazamento químico, soterramentos. Milhares de mortos, feridos, desabrigados. Nervoso, ele chutou o sofá e cuspiu no chão antes de dar mais um gole no wisk, quando ouviu um som de celular, telefone algo indefinido que o despertou do terrível pesadelo. O despertador tocara e eram cinco da madrugada e ao seu lado um morro entre cobertas, era Alessandra, dormindo. Ele ainda suando frio, a acordou e dando-lhe um abraço disse: nada de viagem, não quero mais esse negócio de você longe de mim.Te amo.

 

Autor: José Carlos Cordeiro